Talvez um dos principais fatores que diferenciam nações desenvolvidas das subdesenvolvidas é a escolha da sua matriz de transporte para integração de seu território. Os países que priorizaram a matriz ferroviária, quase que a totalidade se transformaram em nações desenvolvidas. Por outro lado, os que priorizaram a matriz rodoviária hoje são subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, à sua maioria.
Estivemos em Lajes/RN, distante 120 KM de Natal, para conhecer um pouco da história da EFCRGN- Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, ramal Lajes - Caicó.
Por algumas horas de pedaladas esquecemos nosso mundo "contemporâneo" e nos transportamos para o início do século XX. Há mais de um século iniciava-se a construção da EFCRGN - Ramal Lajes-Caicó, com pontilhões, fendas e um túnel de quase 200 metros de comprimento abandonados em plena região central do RN. Segundo historiadores, em 1909, deu-se início à construção do ramal Lajes - Caicó.
Saímos de Lajes e com apenas 2,5 KM já estávamos no primeiro local de nossa, digamos, "expedição". Depois de entrarmos em uma estrada de terra, bem à nossa frente, estava uma caixa d`água ainda de pé, desde o início da construção do ramal. À sua frente, uma parede de um açude e, logo após, o primeiro de vários pontilhões que encontraríamos nesse dia.
Caixa d`água do início da construção da EFCRGN ramal Lajes - Caicó |
Parede do açude onde passaria a estrada de ferro |
Pontilhão |
De lá, partimos para aquele que, sem dúvida, foi a maior estrutura que encontramos nesse dia para receber uma ponte da estrada de ferro. Antes, no caminho, encontramos duas fendas abertas entre as rochas. O levantamento da estrada de ferro feito anteriormente e enviado ao GPS batia exatamente com o que víamos in loco.
No caminho... |
Fenda nas rochas construída para a EFCRGN - ramal Lajes - Caicó. |
Visão mais aberta dá noção da distância e do trabalho para realizar tal obra |
O PONTILHÃO: Segundo pesquisas sobre o ramal, entre as cidades de Lajes e Recanto (localidade de Cerro Corá/RN), distantes 15 KM, existem cerca de 30 conjuntos de pontilhões, que receberiam pontes para a passagem da EFCRGN Lajes - Caicó. Impressiona ao chegar no local, a estrutura que foi construída e posteriormente abandonada. É fácil perceber o quanto de recursos foi investido em tais construções, quantas horas/homem trabalhadas foram necessárias para erguer tais estruturas e até mesmo, em possíveis vidas perdidas, considerando-se o local de difícil acesso e região inóspita.
O maior pontilhão que encontramos no percurso |
Detalhe da estrutura |
O TÚNEL: Após aproximadamente 25 KM pedalados, muitas idas e vindas, conversas com moradores locais, eis que encontramos o principal objetivo de nossa "expedição" sobre bicicletas. Parece fácil em apenas duas linhas descrever como encontramos o túnel, mas chegar até uma de suas entradas não foi tão fácil assim.
Conversas com moradores locais |
Nada tinha sido mapeado anteriormente e, em nossos GPS, havia apenas arquivos de possíveis trajetos até uma de suas entradas. Resolvemos deixar as bicicletas no leito de um rio e continuarmos a pé. Éramos cinco: Eu, Gustavo, Luciano, Daril e Sheyla. Gustavo e Luciano foram na frente, enquanto o resto ficava junto com as bikes. Depois de retornar e terem encontrado a entrada do túnel, Gustavo e Luciano ficaram e fomos Eu, Sheyla e Daril refazer o percurso.
Caminho até chegar à entrada do túnel |
Entrada do túnel abandonado |
Confesso que não resisti. Chegar até ali e ser testemunha ocular da história e não entrar e cruzá-lo era impensável. Após passar pela vegetação, um imenso túnel de 195 metros de comprimento se apresentava. Enorme, imponente e de uma paz incrível. Seguimos em passos firmes e aos poucos a luz do sol ia sumindo, até que escuridão e silêncio total dominassem o ambiente. Sentíamos apenas o vento em nossos rostos e o barulho dos morcegos, que por sinal, não eram poucos. Chegamos até a outra extremidade e melhor...retornamos pelo túnel e refizemos o caminho de volta até o local de partida.
Túnel de 195 metros de comprimento - Lajes/RN |
Entrada do Túnel |
Outra extremidade do túnel |
Caramba! Você viu isso! Show de bola! Foram muitas as expressões para o que tínhamos acabado de presenciar. Mas nada se comparava ao que, agora, tínhamos guardado em nossas memórias. Depois de "anestesiados" com a descoberta do túnel, era hora de retornarmos à Lajes passando pelo Pico do Cabugi. Foram 30 KM até o carro e muita coisa ainda por vir. Retornamos por uma ótima estrada de terra ainda incompleta no projeto tracksource e com o visual do Pico do Cabugi como plano de fundo.
Estrada de terra ainda não constante do projeto tracksource |
Pico do Cabugi como plano de fundo no retorno à Lajes/RN |
Durante o percurso de retorno ao local de partida, passamos por belos lugares, açudes, boas estradas de terra, fazendas e com o Pico do Cabugi se aproximando a cada quilômetro pedalado até chegarmos à Lajes/RN.
Açude em Lajes/RN |
Estradas de terra - Lajes/RN |
Fazenda - Lajes/RN |
Pico do Cabugi. Lajes/RN |
Foram 56 KM de muita história e de belas imagens. Fomos testemunhas oculares de um passado não tão distante de nosso estado e de como obras públicas são abandonadas ao sabor dos interesses políticos e econômicos. O ramal da EFCRGN Lajes - Caicó não foi, infelizmente, o primeiro e não será o último plano de desenvolvimento econômico e social em nosso estado a ser esquecido pelos nossos governantes. Tudo está lá... Fendas nas rochas, pontilhões, túneis que foram abandonados e esquecidos. Onde nunca um trilho foi colocado, hoje é um local praticamente sem habitantes. Certamente a conclusão dessa estrada de ferro traria desenvolvimento para uma região tão sofrida que é a região central de nosso estado.
Um grande abraço e até a próxima....
AGRADECIMENTO:
Gostaríamos de agradecer ao Levy Pereira pelo
levantamento preciso da EFCRGN com seus pontilhões, túneis e fendas
(cortes). Sem esses pontos de referência não podíamos ter descoberto
toda essa história. Tivemos que encurtar o percurso que tínhamos em
mente devido à falta de água, comida e tempo, mas em breve vamos dar
continuidade.
Gostaríamos também de aproveitar e lembrar aos colegas do pedal
que tenham interesse em fazer essa trilha, que levem bastante água,
barras, banana etc.. Esta é a região mais isolada
do nosso estado e com altas temperaturas que podem chegar facilmente aos
40 graus.
Sem esquecer, é claro, dos remendos, cola e câmaras sobressalentes. Na
verdade a melhor opção são os pneus sem câmaras (tubeless).
divirtam-se e bom pedal.
[],s
Gustavo Lyra.
Mais fotos visite a página do amigosdopedalrn no Facebook.
A EFCRGN RAMAL LAJES - CAICÓ:
Início da contrução em 1909 pela The Great Western;
Cidades que seriam beneficiadas: Lajes, Currais Novos, Acari, Caicó;
Trajeto modificado em 1911 e abandonado em 1921 para a construção do ramal Lajes - Macau;
FONTES DE PESQUISAS:
AUTOR: Wagner Rodrigues
Programa CONVERSANDO COM AUGUSTO MARANHÃO
A Estrada de Ferro Abandonada
Publicado em 27/06/2013
Irado! não só pela trilha mas tb pelo valor histórico!!!!!
ResponderExcluirGostei. Além das lindas fotos ainda tive a oportunidade de conhecer um pouco da história do nosso Estado. Parabéns a você Ewerton e a todo o grupo que participou desta "expedição ciclista". Bráulio
ResponderExcluirParabéns pela bela aula de História do RN, que poucos historiadores conhecem. Quero conhecer em loco.
ResponderExcluirJoão Dantas
Que aventureiras que vocês inventam. Túneis e estradas de ferro abandonadas no meio do sertão nordestino, impressionante!. Espero que o Steven Spielberg vai ligar para vocês sobre ideas para o Indiana Jones #5. Vou ler o dissertação do Wagner Rodrigues quando tivesse um momento de tranquilidade na minha casa(?) - muita coisa interessante. Poupe um pouco dessas aventureiras até eu estou de volta aí - ta? Bom perceber que o Gustavo voltou a pedalar. Parece que são algumas peças familiares na bike dele? Abraços Erik W.
ResponderExcluirSomente uma correção. Afazenda que aparece nas fotos acima, chama-se Cacimba de Cima, ela fica no município de Fernando Pedroza. Aquele trecho é confuso mesmo, o Cabugi por exemplo, está no município de Angicos.
ResponderExcluirInfelizmente a decisão de promover o desmanche da nossa rede ferroviária foi tomada no passado sem pensar que temos que ter várias alternativas de transporte de carga e de pessoas. Hoje vivemos uma séria dificuldade na questão do transporte de carga dentro do nosso estado em decorrência da nossa única opção ser o transporte rodoviário, além da questão histórica sem a devida proteção e conservação das estações localizadas nas cidades / comunidades.
ResponderExcluirCaro amigo Everton, já fiz essa trilha duas vezes de carro até Bodó, onde ainda tem registros dela. Tenho muitas fotografias e locais de acesso fora totalmente da rota. Alguns túneis já estavam totalmente prontos e com fachadas e inscrições da EFCRGN. No início da trilha já deparamos com um arruamento onde a velha estação foi transformada numa Igreja. E pode-se observar nas fachadas das casas a Estrela de David, simbolo muito comum naquela época de Ingleses Judeus.
ResponderExcluirParabéns grande Everton
ResponderExcluirLinda estoria resgatada e vela trilha!
abraço
Hugo Kreonte
http://corridadeaventurarn.blogspot.com/
Parabéns Everton
ResponderExcluirLinda história resgatada e bela trilha!
abraço
Hugo Kreonte
http://corridadeaventurarn.blogspot.com.br
Acabei de ver a reportagem do Augusto Maranhão e corri para o pc pra poder ver todo o trajeto pelo google earth confiram dá pra ver vários pontilhões e fendas e tem alguans fotos valeu Fábio Guerra
ResponderExcluirCARO EWERTON,
ResponderExcluirVOCÊS PASSARAM MUITO PRÓXIMO A "BR104" QUE, PARA TODOS EFEITOS "ERA PARA ESTAR ASFALTADA" - MAIS UM DESPERDÍCIO DO DINHEIRO PÚBLICO.
CARO EWERTON,
ResponderExcluirVOCÊS PASSARAM MUITO PRÓXIMO A "BR104" QUE, PARA TODOS OS FEITOS LEGAIS, "ESTÁ ASFALTADA" E É SÓ PISSARO, DO RUIM. MAIS UM DESPERDÍCIO DO DINHEIRO PÚBLICO.
Fantástico! Quero conhecer em breve.
ResponderExcluirparabenssssssss
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